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10/12/2023 04h31 Atualizado 10/12/2023

Os jogos digitais ganharam espa�o na vida e no or�amento dos brasileiros. Segundo a Pesquisa Game Brasil 2023, desenvolvida pelo Sioux Group e Go Gamers, sete em cada dez brasileiros t�m o h�bito de jog�-los. E entre os jogadores, enquanto h� cinco anos apenas 5% compravam moedas dentro dos jogos para consumir em seus mercados virtuais, atualmente j� s�o 30%. Est�o � venda: mapas; expans�es; elementos �power-ups�, que conferem poderes; e �skins�, que podem ser roupas ou at� embelezarem armas (sem aumento de efici�ncia).

Pode parecer estranho para quem est� de fora dos universos desses jogos digitais. Mas para 21,5% dos jogadores � �ndice dos que consomem �skins� ou, como tamb�m s�o chamados, itens cosm�ticos �, importa at� estar bem vestido na tela.

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� As pessoas buscam estar representadas. � como comprar uma camisa de um personagem e andar por a� no mundo offline, o que comunica aos outros que voc� gosta dele � explica Carlos Silva, s�cio da Go Gamers: � Para as empresas, principalmente nos jogos free-to-play (ou seja, que n�o se paga para jogar) � um modelo de neg�cios muito efetivo. Os itens �power-ups�, que melhoram o desempenho, s�o pol�micos, pois criam uma leitura ruim de que quem tem mais dinheiro vai performar melhor. Os maiores jogos ent�o se restringem aos itens cosm�ticos.

Entre os jogos dispon�veis no mercado atualmente, h� os que cobram mensalidades para jogar, os que cobram apenas pelo download, e as op��es gratuitas. �Skins� podem ser recompensas dadas aos jogadores � medida que progridem nos jogos ou itens pagos � parte. Geralmente, o jogo tembetclasseaeconomia pr�pria e a compra de um cosm�tico s� pode ser feita diretamente em seu mercado.

No jogo League of Legends (LoL), que completa 15 anos em 2024 e � um dos mais populares do mundo � com cerca de 180 milh�es de jogadores ativos �, h� cerca de 1.600 �skins� lan�adas at� hoje, e entre os itens dispon�veis, o custo parte de R$ 10 � embora seja necess�rio converter o dinheiro para a moeda do jogo, a RP. O m�dico Rodrigo P, que pediu para n�o ser identificado, � um dos jogadores que abre a carteira para garantir uma experi�ncia diferenciada nele.

� Para mim, � vida real. Se eu sou chato com roupa na vida real, sou chato com a roupa no jogo tamb�m. Eu quero um personagem bonito e com �skins� exclusivas. Se tiver uma �collab� com um desenho que eu gosto, vou querer � conta Rodrigo, que j� gastou R$ 1 mil em uma �nica �skin�: � Estava trancado em casa na pandemia, sem gastar muito, e tinha o dinheiro. N�o me trouxe problemas financeiros, mas n�o me orgulho. No �ltimo m�s, gastei cerca de R$ 300.

Como o LoL, o jogo Counter-Strike (CS) tamb�m vende apenas itens cosm�ticos. Mas o mercado dele n�o � fechado. Os jogadores podem transferir �skins�, o que possibilita a forma��o de mercados alternativos na internet.

A Dash Skins � um marketplace brasileiro de �skins� de CS, com 95.058 usu�rios cadastrados e mais de 30 mil itens � venda. Somente neste ano, j� registrou 431.788 transa��es, com t�quete m�dio de R$ 140. Uma arma pouco usada pode custar R$ 4,20 por l�, mas uma faca nova e mais rara est� anunciada por R$ 22.600.

� O segundo jogo mais jogado do mundo no desktop tem essa express�o tamb�m por causa do mercado de colecion�veis. As pessoas v�o criando seus invent�rios, vendendo e trocando �skins�, e isso fomenta o CS � diz Solon Amaral, CMO da Dash Skins.

�Paguei 16 mil d�lares em uma skin�

Rian Barbosa � o influenciador digital conhecido com Cachorro1337. Ele joga Counter-Striker h� sete anos e, como produtor de conte�do, investe em cosm�ticos raros.

� Ganho skins, mas dentro do jogo h� algumas extremamente raras e quase �nicas no mundo, que se eu desejo, tenho que comprar. Na minha �ltima compra, paguei 16 mil d�lares em uma skin muito cobi�ada, a Knight, um pre�o pr�ximo de R$ 80 mil � calcula o influenciador.

Personaliza��es foram iniciativa dos jogadores

O mercado formal de skins n�o surgiu concomitantemente aos jogos digitais. Segundo o professor Reinaldo Ramos, o desejo por personaliza��o era, antes, atendido pelos pr�prios jogadores.

� O mercado de skins � um fen�meno relativamente moderno. No passado, as altera��es visuais eram feitas por meio de "mods" (modifica��es), criados por jogadores e compartilhadas gratuitamente na comunidade. Com o advento do multiplayer online (jogadores poderem se encontrar numa partida, via internet) e a evolu��o da ind�stria, os desenvolvedores come�aram a criar skins como forma de monetiza��o � lembra o vice-coordenador do bacharelado em Jogos Digitais da PUC-SP.

No League of Legends (LoL), por exemplo, o Ano Novo Chin�s � uma das datas que sempre inspira novas cole��es especiais, com itens disponibilizados a todos e alguns restritos a quem paga. O evento � chamado "Festival Lunar" dentro do jogo.

� N�s temos um grande p�blico chin�s. Ent�o, durante o evento, o jogo pode trazer miss�es especiais, mapas especiais, skins como a de um drag�o chin�s. E o usu�rio pode comprar tamb�m um passe de batalha, que vai dar abertura para um outro conjunto de skins. Rentabiliza e atende a demanda do jogador de ter um cosm�tico diferenciado � avalia Diego Martinez, general Manager da Riot Games Brasil, desenvolvedora do jogo.

Em 2023, miss�es de Criadores M�ticos ficaram dispon�veis a todos os jogadores, em raz�o do Ano Novo Chin�s. Mas para adquirir o Passe LoL Festival Lunar, que habilitava 200 emblemas e quatro orbes, era preciso pagar 1.650 � na convers�o, em torno de R$ 45.

Jogos para mobiles vendem poderes

Itens para melhorias da performance no jogo, os "power-ups", s�o ainda mais comprados do que os cosm�ticos: por 27,5% dos brasileiros. Ainda assim, as maiores desenvolvedoras evitam esses elementos, para n�o danificarem suas marcas e desencorajarem a maior parte da base de jogadores, que desaprova a din�mica conhecida como "pay-to-win" (pagar para ganhar).

� Este termo � usado de forma pejorativa para descrever jogos em que o sucesso pode depender mais do dinheiro gasto do que da habilidade ou esfor�o do jogador � explica Reinaldo Ramos.

De acordo com Ramos, esses itens s�o mais comuns nos mercados de jogos casuais ou mobile. No m�s passado, o engenheiro de Vendas Filipe Barbosa, de 32 anos, gastou cerca de R$ 2 mil nesses adicionais para um jogo no celular, o MU: Dragon Havoc.

� Nunca meti os p�s pelas m�os, mas gasto muito com jogos. Sempre foi o meu principal lazer. E entre os jogos, prefiro os mais agressivos, que t�m �power-ups�. Compro, pois quero ser o melhor � conta Filipe, que admite se arrepender um pouco dos gastos quando cansa do game: � Consigo revender o que compro em 50% das vezes. Mas tem que ter investido o suficiente pra se destacar e deixar a conta atrativa para os compradores.

Dicas para lidar com as crian�as

Jogos online est�o presentes na rotina de crian�as e adolescentes brasileiros. E eles podem ser tentados a comprarem itens adicionais nos games. Portanto, � preciso fazer a conscientiza��o deles sobre os limites financeiros da fam�lia, explica a educadora financeira Aline Soaper.

Al�m disso, para evitar preju�zos por clicks por engano ou que os pequenos caiam em golpes, vale restringir o acesso ao dinheiro.

� Os pais s�o os respons�veis, por isso n�o devem dar acesso ao cart�o de cr�dito deles. O filho pode ter um cart�o pr�-pago para que escolha como vai gastar o dinheiro. E pode usar o valor da mesada, por exemplo � orienta Soaper.

H� ainda ferramentas tecnol�gicas que garantem aos pais n�o terem surpresas na fatura do cart�o de cr�dito no fim do m�s. Veja as orienta��es da Kaspersky, empresa de seguran�a cibern�tica.

Restringir compras - Em alguns jogos, para adquirir itens � necess�rio vincular um cart�o � loja de aplicativos no aparelho do usu�rio. Mas � poss�vel restringir o uso desse recurso no aparelho do filho. No iPhone, clique em "Configura��es" e escolha a op��o "Tempo na tela". Em seguida, escolha a op��o "Restri��o de Conte�do e Privacidade" e, por fim, configure em "Compras no iTunes e App Store". Em um dispositivo Android, � poss�vel habilitar a autentica��o para fazer compras no aplicativo Google Play Store. Clique nas tr�s listras horizontais superiores para exibir o menu lateral, entre em "Configura��es",v� at� a se��o "Solicitar autentica��o ao fazer compras" e escolha a op��o "sempre".

Controle parental - Alguns jogos tamb�m t�m ferramentas espec�ficas para o controle dos pais, como o Fortnite. No caso dele, no primeiro acesso, � aconselh�vel faz�-lo por meio do navegador. Abra o menu localizado na parte superior direita da tela e selecione "Controle dos Pais", que permite configurar o jogo, por exemplo, para requerer uma senha a cada download e compra. Busque no site da desenvolvedora do jogo que seu filho acessa se h� ferramentas como essa.

Prote��o nos chats - Os jogos online tamb�m podem exp�r crian�as e adolescentes a outros perigos. Por isso, algumas desenvolvedoras oferecem a op��o de desativar o bate-papo e os links para sites externos enquanto menores de idade jogam. No Minecraft, se for um jogo multiplayer online, pressione a tecla Escape. Clique em "Op��es" e depois em "Configura��es de multiplayer". Clique em chat e escolha a op��o de desativ�-lo.

Sinais de v�cio em todas as idades

Aline Soaper considera que os gastos com jogos devem entrar na aba do lazer, no or�amento mensal da fam�lia. E a sugest�o de divis�o � deixar: 70% para contas b�sicas, 5% para lazer, 5% para educa��o continuada (cursos profissionalizantes), 10% para investir em aposentadoria, e 10% investir para a realiza��o de um sonho.

Gastos al�m s�o sinal n�o s� de alerta para o bolso. Se o jogo provoca preju�zo financeiro ao jogador � um sinal de v�cio. A depend�ncia a jogos eletr�nicos j� � reconhecida pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), e abrange pessoas de qualquer faixa et�ria.

O risco pode ser ainda maior diante dos itens que impactam a performance, diz o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Albert Einsten:

� Esses utens�lios que aumentam a performance do jogador fazem com que a pessoa se sinta mais estimulada a prosseguir com as compras. Por um lado, � um comportamento de refor�o positivo. � algo que deixa a pessoa feliz e a pessoa quer replicar novamente a a��o, no caso, a compra de itens, para alcan�ar o mesmo tipo de satisfa��o. E, por outro lado, tem o refor�o negativo. Se a pessoa desempenha mal por n�o ter comprado esses utens�lios, isso vai deix�-la mal, e a compra vai fazer com que amenize esse desconforto por ter perdido.

Outros sintomas que indicam depend�ncia, em crian�as e adultos, podem ser: o tempo destinado aos games; rea��es semelhantes a abstin�ncias, como humor irritado quando fica muito tempo sem jogar; e preju�zos nas rela��es sociais ou acad�micas. Em todos esses casos, � preciso recorrer a um profissional de sa�de mental.

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